quarta-feira, 27 de maio de 2009

É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade.




- Outono de 2009.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Porque se olhares em mim verás...
Não sou tão má quanto pensas...
Apenas não sou tão corajosa como imaginas...
Pareço forte mais no fundo sou fraca,fera porém sou belaas vezes chata mais no meu íntimo há sentimentos diversos.
Pareço metida porém se olhares em meu semblante com seu coração verás apenas humildade.
Calma sempre...posso até parecer solitária ...é que realmente tenho poucos amigos...a diferença é que os poucos que tenho não valem metade de um seu ...pense nisso...depois me julgue, lembre-se que se me julga pela aparencia...sou apenas o reflexo de sua ignorancia.

- Outono de 2009

terça-feira, 19 de maio de 2009

"...Estou em plena luta... Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não termos um ao outro... Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
... Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer " pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes se apagar a luz..."

...Outono de 2009...

domingo, 17 de maio de 2009

Um jovem estava no centro da cidade, proclamando ter o coração mais beloda região. Uma multidão o cercou e todos admiraram o seu coração. Não havia marca ou qualquer outro defeito. Todos concordaram que aquele era o coração mais belo que já tinham visto. O jovem ficou muito orgulhoso por seu belo coração.De repente, um velho apareceu diante da multidão e disse: "Por que o coração do jovem não é tão bonito quanto o meu?"A multidão e o jovem olharam para o coração do velho, que estava batendocom vigor, mas tinha muitas cicatrizes. Havia locais em que pedaços tinhamsido removidos e outros tinham sido colocados no lugar, mas estes nãoencaixavam direito, causando muitas irregularidades. Em alguns pontos do coração, faltavam pedaços. O jovem olhou para o coração do velho e disse: "O senhor deve estar brincando... Compare nossos corações. O meu estáperfeito, intacto e o seu é uma mistura de cicatrizes e buracos!""Sim", disse o velho. "Olhando, o seu coração parece perfeito, mas eu nãotrocaria o meu pelo seu. Veja, cada cicatriz representa uma pessoa para a qual eu dei o meu amor. Tirei um pedaço do meu coração e dei para cada uma dessas pessoas. Muitas delas deram-me também um pedaço do próprio coraçãopara que eu colocasse no meu, mas, como os pedaços não eram exatamenteiguais, há irregularidades. Mas eu as estimo, porque me fazem lembrar doamor que compartilhamos. Algumas vezes, dei pedaços do meu coração a quem não me retribuiu. Por isso, há buracos. Eles doem. Ficam abertos, lembrando-me do amor que senti por essas pessoas...Um dia espero que elas retribuam, preenchendo esse vazio. E aí, jovem?Agora você entende o que é a verdadeira beleza?"O jovem ficou calado e lágrimas escorreram pelo seu rosto. Eleaproximou-se do velho. Tirou um pedaço do seu perfeito e jovem coração e ofereceu ao velho, que retribuiu o gesto.O jovem olhou para o seu coração, não mais perfeito como antes, mas maisbelo que nunca.

sábado, 2 de maio de 2009

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.
A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.